sábado, 27 de julho de 2013

Quero ser velha!

O dia em que se comemora o dia dos avós inspirou a minha mais nova decisão: Quero ser velha!

Alguns pirralhos devem estar pensando “tia, acho que você já alcançou o seu objetivo”... hehehe. Mas digo para esses fofos que “Não é bem esse estágio da vida a que me refiro. É um pooooouco mais adiante”. Avante!

Quero viver a fase da calma, da paz, da espera. 
Espera pelos netos! Já catequizei meu único filho (por enquanto) que ter um filho só é para os fracos. 
Pretendo me fortalecer em breve.

Meu “velho” vem sem rótulos de “3ª idade”, “melhor idade”... quero apenas ser velha!

Desfrutar do tempo, sem correrias, sem obrigações, sem rotina. Tempo para pensar, refletir, orar e quem sabe aconselhar... Será que encontrarei a vítima perfeita que possa ouvir minhas experiências? Prometo que não serei muito falante. Já repetitiva... não posso garantir... sabe a memória...

Não precisarei carregar o estigma de tricoteira ou crocheteira, até porque odeio agulhas. Irei para cozinha sim. Eventualmente. Quando der vontade de fazer gostosuras de vovó. Não jogarei baralho, nem dominó; nada de jogatina, meu tempo não estará tão ocioso assim...

Com certeza não serei uma velha com cara de tamborete esticado. Acho lindo rugas que provém de sorrisos, gargalhadas, beijos, biquinhos, olhares charmosos ou bocas sensuais e até as que se formam por sustos, preocupações, caretas... Todas contam um conto da nossa história.

Admiro os cabelos brancos. Presos ou soltos. Curtos ou médios. Longo não mamãe! Longo não! 
Acho curioso os coloridos. Se eu decidir optar pelo estilo “crazy old lady”, usá-los-ei indubitavelmente. Até lá decido!

Cada fase da vida é realmente muito especial. Acho que todos nós deveríamos vivê-la em sua plenitude. Com consciência. Respeitando as outras faixas etárias que temos o prazer de poder conviver. Cada geração seguindo o ritmo de sua época. Lembrando que ou já passamos por ela, ou para lá iremos.

Quero ser velha e ter o direito de falar e fazer o que quiser, sem ligar para o que vão pensar. Eles que pensem o que quiserem. Calma, Calma, pretendo ser bem mais “cabeça sentada” daqui para lá, ou não... hehehe

Meu filho já decretou “Mamãe, não se preocupe, vejo você com noventa e poucos anos”. E eu acredito nele. Para quem não conhece a figura, é de poucas palavras, tipo eu e o pai. Então quando fala... Tenho dito!


Pretendo estar acompanhada do meu velho. Resta saber o que ele pretende... Vai saber! Qualquer imprevisto começo a frequentar as festas dos anos 80, estarão bombando!



Medo da morte? Não tenho nem um pouco. O caso é de amor à vida mesmo... Iiihhh! É o título da novela... nem vem Walcyr! Cada uma!

Não faço questão de ser idosa (politicamente correta), quero ser é velha mesmo. Daquelas ora rabugentas (acho hilário velho rabugento! Vorocos!), ora palhaça (as piadas ficam bem mais deliciosas ditas por eles. Voroco Arruda!), ora doce (serei permitida até para os diabéticos), ora, o que me der na telha. Serei velha! Eu poderei!

Decidi também ser uma velha ativa. Dessas que dançam, viajam, fazem hidroginástica, caminhadas, cuidam do jardim e trabalham. Sim trabalharei! Não há como abrir mão da labuta. Acredito que “o trabalho dignifica o homem” além de ser imprescindível para a sociedade. Então, seguirei no trampo!

E vamos combinar de parar com o preconceito... Ser velho é bom! Mas os próprios velhos não querem ser velhos. Dizem que se sentem jovens. Tudo bem, que bom! Velhos com espírito jovem. Perfeito! Para mim está de bom tamanho assim.



Vou chegar lá, se Deus quiser... Vou com calma, passinhos curtos, vivendo um dia de cada vez, com muita paciência, mansuetude, postura zen... Afinal já tenho que ir treinando o estilo velho e lindo de ser.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu mereço!

Essa frase me vem a cabeça bem acompanhada de um engraçado sotaque do interior paulista.

Era a forma que um colega de trabalho se queixava das coisas, não muito boas, que aconteciam com ele por lá, pela labuta. O jeito dele de reclamar, pelo menos para mim, tornava qualquer tragédia mais light. Era assim que nos queixávamos da vida sorrindo da situação.

Uns aninhos mais para trás, voltando ao passado, lembro de uma tia muito querida afirmando, com convicção, que todos os abençoados acontecimentos da minha vida, eu os fazia por merecer. Ela até se exaltava, pois via minha cara de desconfiança.

Será que merecia mesmo? Tanta bênção, tantas coisas interessantes, e tudo caia na minha praia...

Eu não pude concordar com ela naquele momento, achava que falava isso porque gostava muito de mim e talvez visse mais virtudes do que na verdade eu tinha (modéstia é uma das minhas virtudes!).

Deixei, então, a teoria dela guardada em uma caixinha devidamente etiquetada “abrir em um futuro distante” e arquivada em algum lugar da minha caixola.  Talvez o tempo pudesse responder se essa conjetura era das boas.

O tempo passou, passou como tinha que ser e finalmente concordei. Eu mereço! 

Mereci cada acontecimento da minha vida.

Não me cabe julgar se foram bons ou ruins. Na verdade, o que pode ser aparentemente bom é ruim e o contrário também pode ocorrer. Viajante? É só ampliar o olhar desse mundo terreno e material, que pode ser que faça algum sentido.

Os fatos que vieram para mim foram todos bem recebidos. Uns chegaram meio assim de surpresa, exigindo minha máxima atenção e dedicação; alguns, até nem me achava lá muito preparada para aceitá-los, mas no final das contas dava um jeitinho e ficava tudo bem.

Quando estava na primeira fase do tratamento do câncer de mama, uma coleguinha de luta rosa, dessas bem falantes (não são as minhas preferidas...), foi logo contando a ficha médica dela toda para mim (logo para mim...), no final coroou dizendo que tinha sido muito abençoada por Deus pois o caso dela foi muito fraquinho.

Magoei! O meu tinha sido dos fortes. Teria que deduzir que não era abençoada então? Permaneci calada. Nem se eu quisesse falar não poderia, ela nem respirava na ânsia de descarregar em mim sua história. Discordei dela em silêncio. Porém, mereci escutar esse relato.

Eu mereci me dar bem na vida escolar, universitária, nos meus empregos.

Mereci cada chefe... será? rsrs

Mereci pais dedicados... eu mereço!

Mereci meu príncipe cearense arretado montado em um jegue réio. E a recíproca é verdadeira, ele me merece, se merece! Hehehe

Mereço meu filho querido no auge de sua adolescência.

Mereço minha casa maravilhosa, minha rebelde cachorrinha.

Mereci nascer em Belém (da próxima aceito um berço mais friozinho, ok?)

Mereço ser brasileira e ser obrigada a não desistir nunca.

Mereci meus tempos de “gatinha” e mereço estar horrorosa ultimamente.

Alguém deve estar pensando “que exagero!”. Porém, digo, não é drama gratuito, acreditem em mim. Não vou descrever minha “desabonitesa”, ou expô-la em sua integralidade, afinal continuo me amando e com toda força, mesmo depois do “desmonte” dos artifícios camufladores disponíveis no mercado.

Há quem diga que a montagem, no estilo drag queen, é tipo um tiro que sai pela culatra. Mas gosto de me fantasiar, mesmo assim, me disfarçar de mim. É digno e justo!

O meu amor por mim deve ser do tipo “Amor eterno, amor verdadeiro” que a Débora Seco marcou em sua tatuagem para um dos vááários amores dela, só que não.

E o meu não é cego, vejam só!

Uma amiga minha diz que eu vejo tudo bonitinho porque minha vista anda um tanto cansada... Adooooro amigas sinceras. Apesar de partilhar com o Cazuza a máxima “mentiras sinceras me interessam”. Não esqueçam disso amiguinhos!

Eu mereço minhas amigas! Amigos também! E eles todos também me merecem!

Provavelmente chegará o tempo em que saberemos diferenciar o merecimento bom do ruim, ou não, como diria Caetano. 

Enquanto isso não chega, fico com o “Eu mereço!” (sem veredito e com sotaque paulista) que é bem mais divertido.



domingo, 14 de julho de 2013

A atendente sem-noção

Definitivamente já superei a fase de me incomodar com olhares indiscretos. Precisa sem muito “sem-noção” para eu, ao menos, perceber a insistência visual. Daí para eu me per tubar com isso, vai uma distância enorme.

No entanto, para falar do assunto, CA, as coisas não estão tão bem resolvidas assim...

Estava na fila da C&A tentando pagar uma regatinha de academia.

Ah! Primeiro preciso contar que devido a 1ª cirurgia (mastectomia com esvaziamento axilar), tenho que fazer regularmente drenagem e, muitas vezes, pelo menos ultimamente, tenho que usar uma braçadeira (tipo meia kendal, só que não; uso-a no braço esquerdo) ou um enfaixamento, que fica tipo braço quebrado, para minimizar o linfedema (braço inchado).

Nesse dia, do episódio C&A, estava com o braço enfaixado.

O braço enfaixado chama tanta atenção quanto a touca na cabeça, só que o primeiro abre espaço para o povo começar um diálogo comigo, o que é 10 vezes pior para mim.

A lição “Não falar com estranhos” aprendi direitinho em casa, mas parece que esse pessoal por aí andou faltando essa aula.

Pessoas, que eu nunca vi mais gordas, perguntam o que aconteceu com o meu braço, que problema eu tive, se está doendo... Será que elas estão mesmo preocupadas comigo?

Como isso já aconteceu váááárias vezes, já tenho uma resposta evasiva e um tanto antipática: - Nada demais! Tá tudo bem!

Mas acho que devo aperfeiçoar mais esta resposta e caprichar nos tons cinzentos de antipatia facial, pois a grande maioria, assim como a caixa da C&A, não se conforma com o fim de papo e engata uma pergunta mais direta.

A curiosa atendente logo perguntou na bucha: - Foi queimadura?

Eu bem que poderia ter dito que sim e encerrar o assunto, mas respondi que não. Êta reflexo de sincera mais fora de hora...

O meu “Não” seco, acompanhado de uma expressão acabrunhada, não disposta a fazer novos amigos, não foi suficiente para me ver livre da fulana. Nem a fila me ajudava nessa hora, parece que a loja havia sido fechada para me atender.

Olho para meu relógio a fim de agilizar as coisas. Ela se apressa e logo dispara: - É câncer? Pergunta com uma cara de quem indaga sobre o clima. Onde foi parar aquele tempo em que as pessoas tinham medo de pronunciar a palavra fatídica “câncer”. Essa destemida, com certeza, não viveu nessa época.

Responder uma pergunta com outra pergunta é a máxima dica que consigo dar para estranhos de que não estou a fim de interrogatório: - Por quê? Respondo perguntando, enquanto a encaro e torço para ela se tocar.

Ela prossegue bem tranquilamente: - Minha tia teve... o seu foi de quê? Ela insiste!

Tento mudar o foco e permanecer centrada. Uma meditação express, um “contar até 10”, um “pirlimpimpim” para eu sumir de lá... o jeito é ficar por lá mesmo, afinal já deveria ter superado isso e não me incomodar tanto em falar do assunto.

Tento largar as 4 pedras que já estavam nas minhas mãos prontas para ela e, nessa hora, percebo que ela tem a naturalidade que eu gostaria de possuir nesse assunto. 

Noto que essa é a oportunidade de eu começar a praticar isso. Então, me desarmo geral.

E ela continua: - E o cabelo? Já está crescendo?

Com um semblante tranquilo respondo que ainda não e ela fala com simpatia: - Liga não boba, vai crescer e ainda mais bonito. Não viu o Gianecchine?

Eu digo que preferia ele antes dos cachinhos e ela solta uma gargalhada de quem concorda comigo.

E não é que essa sem-noção ainda era cheia de bom humor?


Tive que rir também. Aproveitei e imaginei como eu ficaria com cara de anjinha, cheia dos cachinhos dourados... hehehe