Essa
frase me vem a cabeça bem acompanhada de um engraçado sotaque do interior
paulista.
Era
a forma que um colega de trabalho se queixava das coisas, não muito boas, que
aconteciam com ele por lá, pela labuta. O jeito dele de reclamar, pelo menos
para mim, tornava qualquer tragédia mais light. Era assim que nos queixávamos
da vida sorrindo da situação.
Uns
aninhos mais para trás, voltando ao passado, lembro de uma tia muito querida afirmando, com
convicção, que todos os abençoados acontecimentos da minha vida, eu os fazia
por merecer. Ela até se exaltava, pois via minha cara de desconfiança.
Será
que merecia mesmo? Tanta bênção, tantas coisas interessantes, e tudo caia na
minha praia...
Eu
não pude concordar com ela naquele momento, achava que falava isso porque
gostava muito de mim e talvez visse mais virtudes do que na verdade eu tinha
(modéstia é uma das minhas virtudes!).
Deixei,
então, a teoria dela guardada em uma caixinha devidamente etiquetada “abrir em um
futuro distante” e arquivada em algum lugar da minha caixola. Talvez o tempo pudesse responder se essa
conjetura era das boas.
O
tempo passou, passou como tinha que ser e finalmente concordei. Eu mereço!
Mereci
cada acontecimento da minha vida.
Não
me cabe julgar se foram bons ou ruins. Na verdade, o que pode ser aparentemente
bom é ruim e o contrário também pode ocorrer. Viajante? É só ampliar o olhar
desse mundo terreno e material, que pode ser que faça algum sentido.
Os
fatos que vieram para mim foram todos bem recebidos. Uns chegaram meio assim de
surpresa, exigindo minha máxima atenção e dedicação; alguns, até nem me achava
lá muito preparada para aceitá-los, mas no final das contas dava um jeitinho e
ficava tudo bem.
Quando
estava na primeira fase do tratamento do câncer de mama, uma coleguinha de luta
rosa, dessas bem falantes (não são as minhas preferidas...), foi logo contando
a ficha médica dela toda para mim (logo para mim...), no final coroou dizendo
que tinha sido muito abençoada por Deus pois o caso dela foi muito fraquinho.
Magoei!
O meu tinha sido dos fortes. Teria que deduzir que não era abençoada então?
Permaneci calada. Nem se eu quisesse falar não poderia, ela nem respirava na
ânsia de descarregar em mim sua história. Discordei dela em silêncio. Porém, mereci
escutar esse relato.
Eu
mereci me dar bem na vida escolar, universitária, nos meus empregos.
Mereci
pais dedicados... eu mereço!
Mereci
meu príncipe cearense arretado montado em um jegue réio. E a recíproca é
verdadeira, ele me merece, se merece! Hehehe
Mereço
meu filho querido no auge de sua adolescência.
Mereço
minha casa maravilhosa, minha rebelde cachorrinha.
Mereci
nascer em Belém (da próxima aceito um berço mais friozinho, ok?)
Mereço
ser brasileira e ser obrigada a não desistir nunca.
Mereci
meus tempos de “gatinha” e mereço estar horrorosa ultimamente.
Alguém
deve estar pensando “que exagero!”. Porém, digo, não é drama gratuito,
acreditem em mim. Não vou descrever minha “desabonitesa”, ou expô-la em sua
integralidade, afinal continuo me amando e com toda força, mesmo depois do
“desmonte” dos artifícios camufladores disponíveis no mercado.
Há
quem diga que a montagem, no estilo drag queen, é tipo um tiro que sai pela
culatra. Mas gosto de me fantasiar, mesmo assim, me disfarçar de mim. É digno e justo!
O
meu amor por mim deve ser do tipo “Amor eterno, amor verdadeiro” que a Débora
Seco marcou em sua tatuagem para um dos vááários amores dela, só que não.
E
o meu não é cego, vejam só!
Uma
amiga minha diz que eu vejo tudo bonitinho porque minha vista anda um tanto
cansada... Adooooro amigas sinceras. Apesar de partilhar com o Cazuza a máxima
“mentiras sinceras me interessam”. Não esqueçam disso amiguinhos!
Eu
mereço minhas amigas! Amigos também! E eles todos também me merecem!
Provavelmente
chegará o tempo em que saberemos diferenciar o merecimento bom do ruim, ou não,
como diria Caetano.
Enquanto isso não chega, fico com o “Eu mereço!” (sem veredito e com
sotaque paulista) que é bem mais divertido.
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