quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu mereço!

Essa frase me vem a cabeça bem acompanhada de um engraçado sotaque do interior paulista.

Era a forma que um colega de trabalho se queixava das coisas, não muito boas, que aconteciam com ele por lá, pela labuta. O jeito dele de reclamar, pelo menos para mim, tornava qualquer tragédia mais light. Era assim que nos queixávamos da vida sorrindo da situação.

Uns aninhos mais para trás, voltando ao passado, lembro de uma tia muito querida afirmando, com convicção, que todos os abençoados acontecimentos da minha vida, eu os fazia por merecer. Ela até se exaltava, pois via minha cara de desconfiança.

Será que merecia mesmo? Tanta bênção, tantas coisas interessantes, e tudo caia na minha praia...

Eu não pude concordar com ela naquele momento, achava que falava isso porque gostava muito de mim e talvez visse mais virtudes do que na verdade eu tinha (modéstia é uma das minhas virtudes!).

Deixei, então, a teoria dela guardada em uma caixinha devidamente etiquetada “abrir em um futuro distante” e arquivada em algum lugar da minha caixola.  Talvez o tempo pudesse responder se essa conjetura era das boas.

O tempo passou, passou como tinha que ser e finalmente concordei. Eu mereço! 

Mereci cada acontecimento da minha vida.

Não me cabe julgar se foram bons ou ruins. Na verdade, o que pode ser aparentemente bom é ruim e o contrário também pode ocorrer. Viajante? É só ampliar o olhar desse mundo terreno e material, que pode ser que faça algum sentido.

Os fatos que vieram para mim foram todos bem recebidos. Uns chegaram meio assim de surpresa, exigindo minha máxima atenção e dedicação; alguns, até nem me achava lá muito preparada para aceitá-los, mas no final das contas dava um jeitinho e ficava tudo bem.

Quando estava na primeira fase do tratamento do câncer de mama, uma coleguinha de luta rosa, dessas bem falantes (não são as minhas preferidas...), foi logo contando a ficha médica dela toda para mim (logo para mim...), no final coroou dizendo que tinha sido muito abençoada por Deus pois o caso dela foi muito fraquinho.

Magoei! O meu tinha sido dos fortes. Teria que deduzir que não era abençoada então? Permaneci calada. Nem se eu quisesse falar não poderia, ela nem respirava na ânsia de descarregar em mim sua história. Discordei dela em silêncio. Porém, mereci escutar esse relato.

Eu mereci me dar bem na vida escolar, universitária, nos meus empregos.

Mereci cada chefe... será? rsrs

Mereci pais dedicados... eu mereço!

Mereci meu príncipe cearense arretado montado em um jegue réio. E a recíproca é verdadeira, ele me merece, se merece! Hehehe

Mereço meu filho querido no auge de sua adolescência.

Mereço minha casa maravilhosa, minha rebelde cachorrinha.

Mereci nascer em Belém (da próxima aceito um berço mais friozinho, ok?)

Mereço ser brasileira e ser obrigada a não desistir nunca.

Mereci meus tempos de “gatinha” e mereço estar horrorosa ultimamente.

Alguém deve estar pensando “que exagero!”. Porém, digo, não é drama gratuito, acreditem em mim. Não vou descrever minha “desabonitesa”, ou expô-la em sua integralidade, afinal continuo me amando e com toda força, mesmo depois do “desmonte” dos artifícios camufladores disponíveis no mercado.

Há quem diga que a montagem, no estilo drag queen, é tipo um tiro que sai pela culatra. Mas gosto de me fantasiar, mesmo assim, me disfarçar de mim. É digno e justo!

O meu amor por mim deve ser do tipo “Amor eterno, amor verdadeiro” que a Débora Seco marcou em sua tatuagem para um dos vááários amores dela, só que não.

E o meu não é cego, vejam só!

Uma amiga minha diz que eu vejo tudo bonitinho porque minha vista anda um tanto cansada... Adooooro amigas sinceras. Apesar de partilhar com o Cazuza a máxima “mentiras sinceras me interessam”. Não esqueçam disso amiguinhos!

Eu mereço minhas amigas! Amigos também! E eles todos também me merecem!

Provavelmente chegará o tempo em que saberemos diferenciar o merecimento bom do ruim, ou não, como diria Caetano. 

Enquanto isso não chega, fico com o “Eu mereço!” (sem veredito e com sotaque paulista) que é bem mais divertido.



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