terça-feira, 30 de abril de 2013

Meditação – isso dá um estresse...


Eu que pensava ser “cabeça ôca” crônica. Meu principal passa tempo era ficar estátua, sem pensar em nada, fazer coisa alguma, desligar os ouvidos, falar tampouco, fechar os olhos ou ficar olhando em um ponto fixo, sem nada ver, e, então, ficar assim ao sabor do tempo... Eis que pensava ser a pessoa ideal para embarcar na onda da meditação.

AAAUUUUU.....
Meditação não é isso? Desligar do mundo, relaxar, silenciar a mente, aquietar, controlar a respiração... essas coisas aí?

Parecia muito fácil para mim. Ainda mais agora que estou com o tempo destinado justamente para cuidar de mim. “Moli, moli”!

Então vamos lá!

Sentar no chão, coluna ereta, pernas cruzadas, ombros relaxados... Ui! Incomodou o meu bumbum... Vamos tentar sentada em cima da cama... não sei se a coluna ficou muito encaixada e ereta... já ouvi falar que pode deitada, e já que estou em cima da cama...

Fecho os olhos e pronto, tô meditando! Tô meditando? Vixe! Que diacho de tantos pensamentos começaram a vir na minha mente? O coração até disparou... Foi como se todas as escolas de samba resolvessem entrar juntinhas, com suas baterias retumbantes em meus ouvidos.

Isso não parece nada fácil... E lembrar do meu perfil, que pensava ser o ideal?

Tento fixar a minha mente na imagem de uma vela... Mas a labareda não para quieta... vai apagar... apagou!

Mamãe havia sugerido pensar no Sagrado Coração de Jesus, pelo menos era estático... Mas como ele é mesmo? Levanto, vou no Google .. imagens... Escolho uma delas e volto a deitar... como é bonita essa imagem. Um coração vermelhinho com uns espinhos, meio tribais, torcidos e atravessados transversalmente, com uma labareda e uma cruz em cima... Hum, isso daria uma boa tatuagem... Onde? Com que tatuador eu faria? Será que já posso fazer? Tenho que fazer uns contatos urgentes.

Meditar, não me falaram que seria tão difícil...

Será que a hiperatividade feminina, que possibilita fazermos várias coisas ao mesmo tempo, está sentindo falta de entrar em ação? Poderia ir arrumar meu armário e meditar? Cozinhar, ver televisão, atender o telefone e meditar?

Uma vez uma professora de Yoga me disse que eu poderia fazer uma caminhada e meditar. Eu deveria concentrar nos passos e na respiração. Na inspiração imaginar que coisas boa entravam para minha vida e ao expirar, que expelia o que havia de ruim. Parecia muito interessante, mas não funcionou para mim, pois lá estava eu apegada às boas lembranças e tentando resolver as pendências negativas.

Só me restou, então, retornar a posição deitada, tentando relaxar todas as partes do corpo, começando pelo pé e subindo o foco até a cabeça. É impressionante que quando reparamos em cada parte do nosso corpo separadamente é que vemos o quanto estamos tensionados.

Depois disso concentrei-me na respiração. Inspirando, dilatando primeiramente a barriga, jogando o ar para a parte superior e, finalmente, passando o ar para encher meu peito. A expiração dá-se de forma inversa, esvaziando primeiramente o peito, depois a parte inferior e finalizando com o esvaziamento total do abdômen, imaginando o umbigo colar nas costas (Ui!).

Como eu sou brasileira e não desisto nunca, vou continuar nessa toada, pois achei que essa é a tática menos pior para mim. Então vamos lá! AAUUUMMMM....

domingo, 28 de abril de 2013

Os Sem Noção


Adoro essas pessoas “sem noção”. Elas têm um quê de inocência aliado a uma boa dose de “abestalhadice” e deixam o nosso dia a dia bem mais divertido...

Eis alguns episódios bem recentes:

A caminho da escola
Na escola do meu filho:

Estava eu na primeira reunião de pais e mestres da escola do meu filho. Não era do tipo "palestra no auditório". Era daquelas que você senta nas cadeirinhas dos estudantes e fica conversando com professores e pais, eventualmente, distribuídos nas salas de aula, separados por disciplinas. 

Era a primeira vez que teria que conversar cara a cara com várias pessoas desconhecidas (quem me conhece sabe que isso já seria difícil em condições ideais de temperatura e pressão) trajando o meu nada discreto lenção coloridão na cabeça.

Havia preparado previamente o espírito da coordenadora da escola dizendo que estava fazendo quimioterapia (odeio surpresas!) e, se fosse possível, estaria presente no evento. Consegui ir.  Ela recebeu-me com um abraço apertado e muito caloroso (recebemos muitos nessa fase) o que me deixou bem mais confiante para enfrentar o que poderia vir pela frente.

Em sala de aula, em meio a professores e pais de alunos, com a sala razoavelmente cheia, aparece-me uma mulher “sem noção”. Esse tipo não consegue ser discreto. Atraída pelo meu inusitado look disparou, em tom de professor, em alto e bom som, com a clareza diccional dos fonoaudiólogos. Ela estava posicionada no alto do pedestal da sala de aula, para não haver dúvidas que todos pudessem escutar: 

- Ei moça, como você consegue amarrar o seu lenço?

Eu, totalmente desconsertada, logo respondi sussurrando (não deu nem para eu olhar ao meu redor e fingir que não era comigo, quem mais estaria usando um lenço na cabeça?), com a esperança de ela vir mais para perto de mim para uma conversa reservada. E ela veio. Veio com tudo, inclusive para me analisar em 360°. 

Acho que ela se conformou ao ver que eram apenas 2 nozinhos, simples, na nuca, que qualquer um com duas mãozinhas livres conseguiria fazer. UFA! Então ela se afastou feliz da vida por ter aprendido mais essa naquele dia. 

Estava vendo a hora dela pedir para eu tirar da cabeça e ensinar o passo a passo daquela esdrúxula amarração.


Indo para a feira
Na feira:

Esse é um ótimo local para testar se o seu poder de sedução continua funcionando na atual conjuntura. 

Evite academias, clubes, praias, parques ou lugares de muito “verão”. Melhor concorrer com abacaxis, laranjas ou galinhas depenadas.

Mas vamos ao que interessa. Entro na feira (sim, a feira que frequento é um local fechado) e uma senhorinha que ia saindo me olhou, me encarou com uma expressão de super espanto, arregalou os olhos e os colou em mim. 

Fiquei assustada também. Se ela gritasse, com certeza eu gritaria também. O que será que ela havia visto em mim? Não era um zíper aberto, nem uma calça molhada parecendo xixi, pois ela só olhava para cima... será rímel borrado ou batom de coloração da coleção passada? Um bago de feijão preso no dente? Bem, talvez fosse o lenço bege rosado amarrado na cabeça, combinado com uma maquiagem meio cigana, arrematado com um par de brincos pendurados que reluziam a manhã ensolarada. Essa combinação seria tão avassaladora assim?

Dei um sorrisinho meio sem graça, mas ela continuava hipnotizada  sem alterar a expressão facial. Ela teve que passar por mim, afinal seguíamos em direções opostas. Ela não se conformou e, no melhor estilo “exorcista”, girou a cabeça enlouquecidamente, não me perdendo de vista. Ao longe, ainda pude vê-la, no estacionamento, procurando por alguma coisa que tanto a perturbá-la naquela manhã de sábado.

Como nem todos os sem noção são do tipo “senhorinhas enlouquecidas”, quando vou saindo da feira, nesse mesmo dia, um homem solta uma cantada para cima de mim... rsrsr Dessa vez, ao invés de dar um sorrisinho meio sem graça, soltei uma gargalhada, porém abafada com as mãos, que é assim que as tímidas fazem... hehehe E foi daí que tirei que a feira é um bom lugar para testar seu poder... hahaha


A Notícia (de novo)


Já havia alguns meses que vinha me sentindo bastante enjoada. Não podia comer nenhuma besteirinha que era mal estar na certa. Fui ao gastro, deveria ser algo nessa área. Depois de alguns muitos exames, incluindo uma endoscopia e uma colonoscopia (ninguém merece!), achou-se uma massinha no ovário, modéstia à parte, massona.

Agora todos os “achados” devem ser fofocados ao meu oncologista (Esses médicos não professam do sigilo profissional dos padres, não?).

Uma vez caído nos ouvidos do meu oncologista, uma junta logo se forma decidindo o que será de mim. Chegaram à conclusão que a melhor forma para eu perder uns quilinhos extras e, ainda de quebra, livrar-me da massona, seria tirar útero, ovário, trompas... essas coisinhas que não me serviam mais. Eu, desapegada como sou, achei ótimo. Funcionaria como uma lipo e com certeza eu ficaria com a barriga invertida. Assim foi feito! Diga-se de passagem, ainda não cheguei no estágio da barriga invertida (Faz 2 meses, ainda resta uma esperança).

Depois de um tempo de recuperação (ainda estou recuperando), veio o resultado da biópsia e a tal massinha era do mal. Um baque, heim?

Achei que não iria conseguir suportar, não teria mais forças, já havia dado o meu máximo da 1ª vez. Vinha fazendo tudo certinho, nem me sentia completamente livre das sequelas anteriores. Ainda faltava a plástica super reparadora dos seios. Nem havia me livrado da fisioterapia, ainda tomava remédios, tentava reparar os ossos e os cabelos ainda não haviam chegado no prometido estágio de “vai voltar mais bonito”.

Esse povo que determina nossas provações nessa vida não poderia ser mais organizado e mandar um desafio por vez? 

Acho que não! 

Quem poderia, na verdade, era eu. Eu poderia enfrentar tudo de novo: as cirurgias, a quimioterapia, a perda do cabelo, os milhares de exames, remédios e injeções dolorosas, as dietas, o isolamento, as dores, o mal estar, o “dar um tempo” de sua vida. 

Dessa vez seria na minha casa, na minha nova terra, rodeada pelo meu marido e filho, repetindo apenas a dedicação e o apoio incondicional dos meus pais. Mas dessa vez eu enfrentaria de outra forma, recebendo o que viesse de frente, de peito aberto, sem vergonhas e poucos pudores, sem grandes questionamentos. Apenas aceitando e tentando tornar mais leve esses dias de tratamento que eu teria pela frente.

PERFIL


Filha há 43 anos, engenheira civil há 20 e servidora pública nos últimos 10 anos. Esposa há 15 anos, mãe há 14 e ainda com o firme propósito de aumentar a família através da adoção. Amiga desde que o destino permitiu que pessoas cruzassem o meu caminho.

É com esse espírito, de coração aberto, que inicio esse blog em vista de estreitar laços com os velhos amigos e familiares queridos, além de tentar conquistar novas pessoas para integrarem o meu seleto círculo de convivência.

Princesa Barbie 2012
Fui diagnosticada, aos 39 anos, com câncer de mama e depois de 3 anos passados, 1 seio, 1 vesícula e alguns gânglios a menos, recebi a notícia que “ele” havia voltado, agora no ovário com algumas pinceladas em outros lugarzinhos que me recuso a dar importância...


PS.: A pretensão do nome do blog é pela boa intenção de tentar tocar de alguma forma o reino de vocês, e isso só uma princesa careca poderia almejar.