sábado, 25 de maio de 2013

Palavra de Doutor

Chegada a hora de tirar a teima com o meu doutor sobre o importante resultado do mais recente PET, pois até agora só havia ouvido o médico que fez o exame e muito rapidamente.

Pegamos o resultado do exame antes do dia de levá-lo para meu médico analisar. Ficou hospedado lá em casa alguns fatídicos dias. Ficou lá no meu quarto, paradinho, me olhando... mas eu não tinha o menor interesse de abri-lo. Definitivamente não sou curiosa nesses assuntos. Já sabia que ele estava ótimo e só isso me importava.

Meu marido se encheu de coragem e foi analisá-lo. Eu dei uma espichadinha de rabo de olho só para ver se as “fotos” apresentavam uma considerável escoliose na forma da primeira letra do meu nome preferido: STELLA.

Não pretendo curar mais esta escoliose (já quis um dia), é minha marca registrada nos exames. É através dela que tenho certeza de que o exame é meu e ninguém tasca. Um charme!

Ultimamente ando cheia de marcas registradas, tenho que patentear.

Chegamos ao consultório com uma sacola de exames quase maior do que eu. Marido carregando, claro!
O doutor, ao nos ver, abre um sorriso... um sinal! Já percebi que quando o negócio está brabo ele não sorri. Já deveria, de certo, ter se comunicado com o médico do exame.

Analisa o exame mantendo o suspense (o negócio é com emoção)... olha para os exames, digita no computador... Eu aproveito para analisar a decoração do consultório pela milésima vez. Tudo bonitinho! Chama minha atenção um jardim de inverno, com pedrinhas brancas e umas plantas que não sei ainda se são naturais. Da próxima vez vou arrancar um pedaço dela, quando o doutor não estiver olhando, para desvendar mais essa dúvida cruel.

O silêncio é quebrado pelo meu médico dizendo que esse é o resultado que todo médico gostaria de ver e de poder transmitir para seu paciente.

Sorte dele que havia uma mesa de vidro entre nós. Poderia ter quebrado uma de suas costelas com um agradecido e caloroso abraço de urso.

Certos médicos, os bons, têm um poder sobrenatural sobre seus pacientes. Certa vez disse para minha ginecologista que, só de olhar para ela, melhorava meu estado. Pedi, então, uma foto dela com o intuito de melhorar mais rápido. A desvantagem de falar muitas gracinhas é que as pessoas não te levam muito a sério... Ela me olhou, soltou uma gargalhada e não me deu a foto. Era sério!

Olho para o meu médico e agradeço a ele, a Ele, a todos... e são tantos... Agradeço mesmo assim, sem preguiça, em grupos, categorias, por localizações geográficas, por nomes, caras e corações... Agradeço!

Vou continuar com o tratamento, como antes havia sido previsto. Mais uns 4 meses de quimio, que são mais umas 12 sessões de medicação.

Acho bom assim mesmo. Sou pela prudência. Um canhão esmaga melhor uma formiguinha (apesar dessa figura não ser ecologicamente correta). Essas “formiguinhas” que andaram pelo meu terreno (repare o passado do verbo!) eram danadinhas mesmo.


Seguimos em paz para nossa casa, eu, feliz da vida, assim como toda minha comitiva. Vim saltitante por ter a certeza de poder continuar na luta; luta essa que já está com as cartas marcadas de quem será o vencedor. Adivinha?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Campanha “Comentário já!”



Estava bastante relutante quanto a escrever sobre esse tema, apesar de que ele já atormentava a minha cabeça faz algum tempo.

Comecei a pensar por que a grande maioria das pessoas não deixam suas “pegadas” ao passar pelo blog “A Princesa Careca”?

Algumas respostas vieram a minha mente: (1) A correria do dia a dia, (2) Não saber muito bem o que escrever, (3) Não imaginar que quem escreve o blog (no caso euzinha) talvez gostaria de saber quem lhe visitou, (4) Não saber postar comentário, (5) Ficar sem jeito de escrever alguma besteira e depois ainda ser tachado de “sem noção”, ou, simplesmente, (6) não querer mesmo escrever e pronto.

Quanto a possibilidade (6) não há mesmo o que eu argumentar, né? Então deixa para lá... Eu escrevo por nós dois. Eu pergunto e eu respondo. Eu bato o escanteio e corro para cabecear. No problem!

A correria nossa de cada dia é braba mesmo e assola até a mim mesma, que o que tenho para fazer, esses dias, é simplesmente cuidar de mim; mas isso dá um trabalho... De qualquer forma, sinto-me a vontade de insistir de que quando você tiver um tempinho entre o trabalho, a academia, a pegada dos filhos na escola e o almoço com os amigos, por favor, não esqueça de mim.

“Não saber o que escrever” é um problema mesmo... Eu também, me colocando no lugar de vocês, talvez estivesse passando por isso. Então, posso solucionar essa problemática simplesmente dando opções de postagens de comentários:

I – Amiga, li seu texto. Com amor, “Fulana”

II – Stella, estive aqui. Bjossssssss, “Sicrana”

III – bjo! Anônimo

IV - J Bel (Beltrana)

V – Vim, vi e venci.

VI – Independência ou morte!

VII – Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação...

Ou qualquer outra coisa... o importante é você marcar presença.

Vamos fingir que somos sem terra, sem teto e sem tudo e que o Roriz disponibilizou umas terrinhas por aqui, pelo entorno de Brasília. É hora de marcar lugar e garantir o seu quinhão. Faça o seu barraco!

Quanto a possibilidade (3), de que eu gostaria de saber quem passou por aqui, acho que já deixei bem claro nas linhas, entrelinhas, bordas e rodapés, certo? Hoje em dia, com tantos “poréns”, “senões” e “no entantos” fica até difícil de definir o que se quer de verdade. Acho que não é meu caso.

Não saber postar comentário, parece que é comum. Aqui em casa mesmo já tivemos lutando com o computador e ele ganhou de lavagem. Depois, com ajuda dos videos do you tube e assessoramento do dr. Google, descobri que quem tem conta do Gmail  deve fazer o login na sua conta de Email e depois poderá postar os cometários em seu nome tranquilamente.

Quem não tem conta de Email no “Gmail” e não quer ter mesmo, então deve escrever o seu comentário, e na caixinha abaixo de “comentar como”, abrir a opção “anônimo”, a última delas e depois clicar em “publicar”, certo? Não esqueça de assinar o seu nome, caso você não queira que eu gaste os meus poderes sobrenaturais tentando decifrar de quem é.

As vezes, ainda tem um código para ser redigitado por nós, para se ter certeza de que não se trata de um robô. É só reescrever as letrinhas... simples!

Ainda restou a possibilidade de você estar intimidado em fazer parte da grande família dos “sem noção”. Não se avexe meu filho, minha filha... Eu amo os “sem noção”. 

Abre esse coração, solte essa língua, agita esses dedinhos no teclado, remexe esse quadril (opcional), bota essa imaginação para funcionar e não tenha medo de pagar mico. Esses primatas já estão mesmo todos quitados por mim.

Beijo,  me liga!

SEM PRESSÃO!!! rsrsrs

quarta-feira, 22 de maio de 2013

3 Desejos


Uma mulher prevenida vale, no mínimo, por duas.

Andei pensando se um dia, caminhando pelas ruas de Brasília, tropeçasse em uma lâmpada mágica. E que, ao esfregá-la, me aparecesse um gênio disposto a realizar 3 pedidos meus.

O que fazer nessa hora? Pensar rápido! O gênio não tem todo o tempo do mundo... se eu falasse: “Dá para me dar um tempo?”, ele poderia considerar que isso já fosse um pedido, e me restariam apenas dois a serem esgotados. Não dá para desperdiçar pedidos nos tempos de hoje... Raciocina cabecinha!

Nos meus 10 anos de idade, os desejos sairiam automaticamente, sem pestanejar:

- Quero 1 par de patins de botinha branca, com rodinhas vermelhas paralelas (nada de in line), 1 quarto decorado, todo trabalhado no branco e 1 viagem para Disney.

Rápida, certeira e objetiva!

Aos 20, também não tinha muito o que pensar:

- Desejo 1 estágio remunerado, 1 carrinho básico e 1 namorado legal (será que deveria detalhar mais esse “legal”?)

Aos 30, pensaria um pouco, mas decidiria:

- Almejo 1 emprego bom e estável, 1 casa própria (coisa de pobre!) e 1 família feliz.

Aos 40, atual fase, complicou geral. Esse período de tantos questionamentos... Só sei que nada sei!

Acho que já passei do momento de correr atrás de coisas palpáveis. Estou super satisfeita com meus bens materiais, com o meu bem querer, com o meu bom emprego estável, com minha família feliz e nem me interesso mais por patins com rodas paralelas, muito menos in line.

Que pedir agora?

Vejo que me arranjo um problema existencial deparando com uma lâmpada maravilhosa.

Não quero parecer esnobadora, mas hoje, tudo que vem, vem bem e para o meu bem. Recebo, sinceramente, de coração aberto e feliz da vida o que vier para mim e, nessas horas, aceito surpresas.

Nesse período que me encontro... alguns podem pensar: tadinha dela, não merecia... Mas digo que não carece raciocinar dessa forma.

Quanto maior o problema, percebo o quão mais amparada estou, pelos da terra e pelos do céu, e por isso estou mais forte, mais consciente e alerta para o que realmente importa.

“O essencial é invisível aos olhos”, já dizia Saint-Exupéry.

Por isso, já decidi, quando encontrar uma lâmpada mágica, deixa-la-ei intacta à espera de seu Aladin, que saberá muito bem o que fazer com ela.

Eu, por minha vez, acabei de subir minha cotação para 2,5. A da mulher prevenida, lembra? Hehehe Quem conta um conto, pode aumentar alguns pontos.

sábado, 18 de maio de 2013

Quem tem medo de PET?


Com tantos pet shops por aí, a primeira coisa que vem a cabeça, em se tratando de PET, é a figura de um animalzinho de estimação. O visualizamos de tamanho pequeno (petit), dócil e inofensivo. Desses que qualquer um quer ter em seu colo. Quem teria medo desse PET?

Os ecológicos de plantão pensariam nas garrafas PET. Elas, depois de usadas e devidamente lavadas, diriam eles, ficariam perfeitas acomodadas no lixo reciclável. Essa PET (politereftalato de etileno) quem teria medo? Só se fosse o medo de poluir o planeta.

Porém o PET a que me refiro tem nome e sobrenome: PET/CT. PET é um exame que consta de uma tomografia por emissão de pósitrons e CT significa tomografia computadorizada. Esse PET, bem mais poderoso que os anteriores, é capaz de localizar tumores malignos e estudar o funcionamento de órgãos como o cérebro e o coração.

Fui fazer esse exame ontem, 17 de maio. Foi o terceiro da minha vida e nem vou dizer que espero que seja o último, pois ele em si, tadinho, nem é o vilão dessa história.

A minha “boa” memória é notável. Apesar de não ser incipiente no assunto, foi tudo meio novo para mim. Os outros exames do passado, nem tão passado assim, já havia os deletado todos da minha cabecinha.

Lembrava, porém, que envolvia veias. Essa informação, por si só, já me causa palpitações, mãos e pés gelados, além de esboçar um sorriso sem graça em meu rosto.

A furada é na mão. Dizem que pior do que na mão, só se fosse furada no pé. O mais curioso é que as histórias sempre podem piorar... Então não reclame!

Tento negociar com a enfermeira para não perder o costume:

- Não dá para furar na dobrinha do braço?

Eles me explicam que não dá porque depois que eu entrasse no “túnel” (sim, tem túnel envolvido) ficaria mais fácil de injetar a medicação. Não custou tentar.

O exame é realizado em jejum. Na noite anterior já tem que parar de comer coisas com açúcar, inclusive massas e carboidratos. Na manhã do exame, só água.

O tempo que leva para fazê-lo é de 3 horas de descanso na clínica (mesmo não estando cansada) e 30 minutos de exame propriamente dito.

Nas primeiras 3 horas não há muito o que fazer. Você, em um cubículo branco, sem nenhum atrativo, fica reclinada em uma poltrona, enquanto que a única coisa que se mexe são as gotas de soro entrando em sua veia. A dica é colocar o seu cérebro para funcionar e pensar só em coisas boas, pessoas, situações passadas, planos para o futuro... tudo bom! Vale também orações, preces, mentalizações, músicas (das calmas, por favor).

As minhas 3 horas passaram rápido. O que mais tenho é coisa boa para pensar. Ainda mais agora que escrevo esse blog, já aproveitei para escrever a próxima pauta em minha mente. O desafio foi passar para a tela quando cheguei em casa. Velha memória de guerra...

Os 30 minutos restantes e mais importantes: Vestida em um moletom bem confortável e quentinho, de meias e toquinha estava preparada para entrar no túnel.

Geralmente, para essas coisas, fecho os olhos. Dessa vez fiquei olhando tudo para poder contar para vocês.

O túnel não é muito longo. Eu, no alto dos meus 1,6 metros, não consigo ficar totalmente dentro dele. Quando o pé entra a cabeça já está saindo do outro lado. Então, os claustrofóbicos também não têm com o que se preocupar.

A uma certa altura do exame, injetam o contraste naquele tubinho que estava pregado na minha mão desde o início do negócio.

Depois que passou o exame, não me contive, perguntei se a enfermeira tinha algo contra mim. Teria feito algo ruim a ela em vidas passadas? Então porque ela injetou aquele contraste “com tudo”? Doeu viu? E eu, imediatamente, pedi para Maria segurar na minha mão, com cuidado para não apertar a agulhinha.  Ela segurou e parou de doer. Minha sorte!

Esse medicamento injetado esquenta o corpo, principalmente as partes íntimas. Fica tudo quentinho... bom...

Não preciso nem dizer que a sala de exame é um frigorífico, né?

É necessário ficar paradinha durante todo o exame. Mas para quem brincou de “Estátua” na infância, isso é moleza.

Exame encerrado é hora de tentar fazer uma investida com o médico para ver se descubro algo:

- Doutor, o senhor não pode falar nada do exame ainda, né? (Que otimismo!)

E para minha surpresa ele responde:

- Posso sim, seu exame está ótimo!

UUUUHHHUUUUU!!!!!

Sei que ainda tenho que aguardar uma análise mais detalhada, que ainda vou voltar no meu médico, que devo continuar com o tratamento... Mas o que importa é que meu exame está ótimo!

Então já posso tirar minha placa do bolso:




quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os sem noção atacam novamente


Estava indo a padaria comprar o pão nosso de cada dia. Para isso, teria que passar pela frente do cabeleireiro, lugar que ando fugindo ultimamente.

Não sou muito fã de salões de beleza, os evito ao máximo, só quando não aguento mais olhar no espelho e ver a mesma cara, digo, cabelo refletido, é que me dirijo a um lugar como esses.

Nos últimos tempos andava frequentando a área.

Tudo começou como uma vontade incontrolável de ser “Marilyn” (a Monroe, claro!). Dirigi-me, quase sem pensar, a um salão aqui do meu bairro. Deveria ter raciocinado que coloração, e das bem radicais, é coisa séria. Poderia ter me informado, pesquisado um bom profissional da área, essas coisas.

Sou impulsiva mesmo. Tinha que virar Marilyn e tinha que ser naquele sábado.

Cheguei no salão. O colorista principal não estava (um sinal!), mas estava uma lá, que penso ser a “aprendiz de colorista”, que depois vim comprovar estar ainda nas primeiras lições e não ser uma aluna muito aplicada. Ela seguiu descolorindo mecha por mecha na mais perfeita calma. Já se iam 2 horas, adentrando na hora do meu almoço e nada. Ela alegava que meu cabelo era difícil de “abrir” a cor.

Cabelo lavado, escovado e não me lembrou, nem de longe, a diva.

O fato é que surgiu uma “coleguinha de salão” que foi logo concordando com a cabeleireira dizendo que eu ficava mesmo melhor de “Norma Jeane” que Marilyn.

Fui obrigada a voltar outras vezes nesse salão para reparar o estrago. Hidratar, retocar a cor (não desisti de ser Marilyn), hidratar de novo... e sempre encontrava a coleguinha dos comentários apaziguadores.

Nesse dia, que eu tentava passar despercebidamente pela porta do salão, me surge a tal coleguinha perguntando-me, com um sorriso aberto no rosto:

- E o que temos por debaixo dessa touquinha? está loura ou ruiva?

Ai meu Deus! Tenho mesmo que responder?

Não nego que saiba representar. Me dê o roteiro que a atriz baixa em mim. Mas para isso é necessário ensaiar a minha performance. De improviso fica difícil. Prefiro fazer a “sincera”. Dá menos trabalho. Então respondo:

- Nenhum dos dois.

O sorriso da coleguinha desapareceu e deu lugar a palavras de consolo e de esperança. Fiquei sensibilizada com ela quando a vi, da mesma forma, comovida comigo. Talvez nessa hora tenha sido “enterrada” uma sem noção. 

Nessa altura do campeonato, será que ainda aprende?

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Dentro do meu eixo Padaria-supermercado encontro um senhorzinho que mora nas redondezas, e apesar do pouco convívio e das esparsas palavras que trocamos, o consideramos amigo da família.

Simpatia, afinidade e amor, por que não, realmente não se explica. Gostamos dele desde o início em que nos mudamos para o nosso atual endereço, há um ano atrás. Já trocamos algumas histórias das nossas vidas e ele nos deu preciosas e sabias dicas de quem já viveu mais que nós.

Descobrimos que além do amor pelas plantas, tínhamos em comum o câncer na família. A esposa dele também lutava arduamente contra um desses. Não sei muito bem de que tipo, mas sei que o negócio não está muito fácil por lá.

Toda vez que nos encontramos, ultimamente, ele está cabisbaixo e alquebrado.
Esta aí uma desvantagem de casal muito unido: um adoece e o outro é que parece sentir mais o baque. Vou exigir que o meu marido ande por aí abatido também... mas só fingir... eu mereço!

A penúltima vez que vi esse senhor foi quando ele parou em frente a minha casa perguntando por que tinha um carro de laboratório parado na minha porta. Expliquei para ele que o laboratório vinha toda quinta aqui em casa. Ele perguntou se era algum problema com a minha mãe (as mães é que pagam o pato... rsrs). Expliquei que era comigo. Então ele seguiu, imagino que sem entender muito bem, não perguntou mais nada, mas a pulguinha deve ter ficado com ele.

O mais recente encontro que tivemos estávamos na padaria perto de casa. Estava na hora dele desvendar o mistério que ficou pendente. Diante do meu look, de lenço amarrado na cabeça, ele foi logo “entrando de carrinho” e fazendo jus a um cartão vermelho:

- Mas você está careca?

Sim! Expliquei que assim como a esposa dele, também estava em tratamento.

Aí vieram as perguntas “check-list”. São os questionamentos que surgem quando descobre-se que a outra pessoa passa pelo mesmo problema. Coisas como: Onde você faz o tratamento? Por quanto tempo? Você enjoa? Como é sua imunidade? Essas coisas.

O problema é quando surgem perguntas inusitadas que você nem saberia que poderia acontecer, como: Já afetou sua memória? Vixe! Preocupei! Deveria afetar minha (já péssima) memória? E se já afetou, será que eu lembraria que ando esquecida?

Ai meu Deus, esse povo... é preciso muito amor no coração.

sábado, 11 de maio de 2013

Nem tudo são flores


Depois de um longo e tenebroso inverno, com frios e calafrios, voltei!

Essa, definitivamente, é uma época de descobertas.

Descobri que minha dor física tem trilha sonora e é proferida por mim mesma.

Esses últimos dias atravessei bastante dolorida. Começou com uma dor nos “quartos”. Os “quartos”, para mim, estão localizados na parte traseira do meu corpo, acima do bumbum, abaixo das costas. A dor era apenas no quarto esquerdo, mas já incomodava pela casa toda. Aguentei o dia inteiro, para ver se ela se cansava e ia embora. Mas se há alguma finalidade para dor, essa deve ser de avisar que algo não vai bem.

Ligamos para o meu atual anjo terrestre, meu médico, que poderia solucionar essa problemática. Ele determinou que eu fosse para um laboratório 24h para fazer exame de sangue e de urina. De sangue, já é meu velho conhecido, inclusive já me conformei com ele e consegui passar todo o meu medo para meus acompanhantes que sempre tentam negociar com os médicos e posteriormente advertir os tiradores de sangue da complicada rotina.

Chegamos ao hospital. Eu estava bem acabada. Além do look composto por moletom 2 números maior que o meu , um xale bem vovó, uma das minhas touquinhas , velha de guerra, nenhuma maquiagem (ninguém merece!) e um par de tênis, que segundo uma prima minha só é perdoado usá-los na academia. Bem que ela não mora aqui, eu seria banida da família.

Voltando ao hospital... A nossa terra está mesma cheia de anjos, e nesses tempos eles insistem em cruzar o meu caminho. Apareceu um rapaz, não sei de onde, que foi resolvendo toda a burocracia para que os exames se realizassem na mais possível rapidez. Só faltou ele ficar segurando o vidrinho para eu fazer meu xixi amarelinho. Mas não ficou. Assim que tudo se desenrolou, sumiu. Esses seres celestes são assim mesmo, sem educação.

Teríamos que esperar de 1 a 2 horas até que o resultado ficasse pronto. Eu sempre light propus para o doutor:

- Eu posso esperar em casa? Mamãe e papai ficam aí para pegar o resultado. (hehehe)

Infelizmente, eu teria que ficar porque dependendo do resultado ficaria internada por lá naquela noite mesmo.

Nada contra hospitais, atualmente até gosto deles (quando necessário). Penso em um hotel em que a hóspede principal sou eu, e todos estão trabalhando para o meu bem estar (bem princesa). Claro que saio de lá agradecida e recomendando a hospedagem.

Como eu estava debilitada de verdade, meu médico mandou que eu esperasse em um lugar, tipo um quarto, mas as paredes eram cortinas. Era bacaninha assim mesmo e ainda cabia 1 acompanhante , no caso a minha mãezinha. Os meus outros 3 leões de guarda (pai, marido e filho) ficavam se revezando para dar uma espiadinha de vez em quando.

Como esse povo de hospital adora ver as pessoas furadinhas, alguém teve a brilhante ideia de me colocar um sorinho (do tamanho de um botijão de gás) e soltou a infeliz sentença: 

- Vai logo puncionando a veia dela!

Está aí uma palavra que odeio: Puncionar. Credo!!!

Eu não falo palavrões. Não consigo. Já tentei. Ensaiei em casa, mas na hora não sai. Trava. Parece que minha voz e minha atitude corporal não combinam com as palavras. Acho tão bonitinho e até engraçado, mas quando chega minha hora, a oportunidade ideal, não vai... Se for outra vez ao psicólogo (só fui uma vez na vida) vou falar desse problema para ele. Mas enquanto isso não acontece, pois minha agenda está muito concorrida, vou usar o “puncionar” como tal.

- Vai te puncionar! - Puncione-se! - Vai puncionar no meio da tua veia moleque!

Soro nos deixa assim, nervosa mesmo.

Uma hora e mais outros intermináveis minutos depois... veio o resultado dos exames: Infecção urinária, das brabas.

Essa seria a menos pior das notícias, pois com esse diagnóstico pude voltar para casa.

Uma vez sob a proteção do meu lar pude dar vazão e volume a minha sonoplastia para as horas de dor, que estava temporariamente reprimida no hospital, para desespero de quem se posiciona a menos de 5 metros da minha pessoa.

Os sons constam de gemidos em forma de vogais nasalizadas que a primeira vista são constantes como um eletrocardiograma de um “de cujus” (= presunto, defunto, aquele um que seguiu a luz). Os mais atentos, porém, com os ouvidos apurados e que consigam adentrar-se na arte da coisa, vão perceber que existem nuances de tons e sons, e porque não de cores, capazes de ninar um bebê inquieto. Assim eu durmo e tudo melhora no dia seguinte.



terça-feira, 7 de maio de 2013

Em que pé estamos?


Como diria um velhinho caindo da torre da igreja:

- Por enquanto estamos bem! – proferia o senhor em tom suave.

Terminei hoje (03/04/2013) o 2° ciclo de 3 químios semanais que recebo com um intervalo de 1 semana entre os ciclos.

Graças a Deus sinto-me ótima. Bem disposta.

Na primeira vez (em 2009/2010) também não lembro de grandes e efusivas reações desagradáveis. Acho que o calor perturbava-me mais que os remédios que estavam nas minhas veias (fiz o 1° tratamento em Fortaleza).

Dessa vez a medicação vem pelo cateter e nem tenho que ficar estressada pensando se vão “pegar” minha veia logo da 1ª vez. Dava vontade de dizer como a minha sogra, com sua cara bem zangada:

- Pode procurar direitinho (as veias), elas estavam todas aí quando eu saí de casa.

O meu cateter querido é uma bolinha localizada entre o ombro direito e o seio, fica lá quietinho e precisa ser muito ruim de alvo para não “pegá-lo”  da 1ª vez. Nunca aconteceu comigo. As minhas enfermeiras são experts.

Tenho que tirar sangue semanalmente para ver se a imunidade está boa. Gostaria de dizer para vocês que o homem que tira sangue aqui em casa é bem afeiçoado, mas não vou fazê-lo pois a minha “censura” não gosta... ssshhhhh...

Quando não estou muito “imune”, e já aconteceu 2 vezes nessa temporada, devo tomar uma série de 3 injeções diárias por vez. Tomo na barriga. É ótimo que ela não esteja muito sarada nessas horas. Dói um pouquinho e o pior é que nem dá para distrair com a belezura dos aplicadores. As vezes, mais tarde, dá uns incômodos na coluna... mas procuro não me fixar neles. Me falaram que é a medula produzindo coisas boas, é isso que importa.

Vou fazer um PET-ct (exame) na semana que vem. Pense em um exame “dedo-duro”! Não passa nada...

Não sei quanto tempo de tratamento ainda tenho pela frente, definitivamente não sou nada curiosa. Acho que deve depender dos resultados dele, certo?

Ah! Também estou me tratando com homeopatia. O “dr. Gotinha” está me ajudando bastante e em breve estarei recebendo luzes coloridas da cromoterapia, monitoradas pela mamãe.

Atualmente o meu suporte é o meu tratamento espiritual. Além de concentrar-me em casa, ler e orar, recebo 2 passes semanais, 1 deles especial, direcionado para o problema de saúde. Acredito que fizemos importantes progressos nessa área. Estou me sentindo bastante forte e amparada, envolta em muito amor.

Como a vida não para, sigo tentando cuidar do meu bracinho amado que está com um pequeno linfedema que requer drenagens, exercícios, enfaixamentos e uso de uma braçadeira que segura o inchaço.

Porém, o que me empurra para frente, além da fé em um futuro promissor, é o meu atual “curso para pais adotivos”. Finalmente fomos chamados pela Vara da Infância e da Juventude para integrar o curso composto de 4 encontros semanais para dar continuidade ao processo de adoção. Sei que muita água ainda rolará, mas estamos confiantes que acontecerá o melhor para todos os envolvidos.

Voltando ao velhinho, que ainda está no ar, caindo da torre da igreja... Ele despencará em um lindo lago de águas calmas e de agradável temperatura, rodeado de frondosa vegetação e com toda estrutura para ele sair de lá sequinho e todos arrumado para seguir com seu atribulado dia, repleto de tarefas a serem cumpridas.

Ah! Esqueci de dizer que o velhinho sabia nadar!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Anestesia para ficar doidona


Estava no consultório do meu obstetra combinando os detalhes do futuro parto do meu filho (isso no século passado, 1999). Só o que eu pedia para o doutor era que fosse com anestesia. Tudo bem que fosse parto normal, que pelo próprio nome sugere que deveria ser mais tranquilo.

Aceitei o tal de parto normal, contanto que ele viesse precedido da anestesia. De que tipo? Não sei! De preferência do tipo que dorme e já acorda com o nenê nos braços.

Detalhando mais o sonho, que ele já estivesse mamando na mais perfeita paz (o que me pouparia dias posteriores de sofrimento). Mas não foi assim que se deu. O bebê era apressadinho e foi logo saindo sem deixar tempo para eu experimentar, nesta minha primeira chance, o poder da anestesia.

Anos depois (em 2010), para resolver o probleminha do CA de mama (CA é o apelido do câncer, mas só para os íntimos) é que tive a oportunidade de desfrutar da “viagem” anestésica.

Até agora já se foram algumas tantas que nem saberia relatar cada uma delas com precisão. Melhor fazer um medley digno dos melhores DJs, apenas interrompido por mixagens abruptas de histórias entrecortadas.

Uma das constantes que já percebi nos meus procedimentos cirúrgicos é o ânimo das equipes. Nada de expressões acabrunhadas ou quebrantadas. Eles comentam assuntos diversos do dia a dia, de forma vigorosa, enquanto cutucam vários pedaços do meu corpinho. Um desses mascarados, o meu preferido, é o que me coloca para dormir.

Não é assim tão rapidinho que isso acontece, eles são torturadores; além de fazerem milhares de perguntas, ao passo que você congela na sala de cirurgia, ainda querem ficar monitorando suas reações. Bloco de gelo reage? Acho que meu organismo seria mais espontâneo dormindo.

Vou dando uma forcinha. Podia ser que eles pensassem que eu gostaria de estar consciente em todas as fases do processo. Mas prefiro não participar e de quebra registro que confio inteiramente em vocês... Vão fundo!

- Doutor, não está na hora da anestesia? Oh, pode caprichar viu? Sou durona na queda!

Em uma das cirurgias, no momento em que se aproximava do “ponto máximo”, me colocaram uma máscara, tipo de inalação. Mandaram eu ir falando e respirando normalmente. Como faz para ficar “normal” nessas horas? Eu fico bem falante, fazendo gracinhas e respirando freneticamente por tudo que é buraco para ver se entro logo no clima do “bonde zen”... hhuuummmm...

Finalmente relaxo. Deve ser uma das poucas oportunidades que faço isso. Queria que filmassem para deixar para posteridade.

Na microcirurgia de colocação do cateter, o doutor principal disse que eu, sobre o efeito da anestesia, não parava de perguntar se eu poderia subir escada quando chegasse em casa. Foram dezenas de vezes. A equipe não se aguentava e ria a cada indagação. 

A preocupação vinha da recente cirurgia (histerectomia) em que a doutora me deixou a cisma de ter que acampar no andar de baixo da casa enquanto me recuperava. Claro que desobedeci! Subi em slow motion e no andar de cima fiquei ilhada a “la Rapunzel” (só que sem cabelo) por algum tempo. A sorte que meu príncipe pode usar as escadas.

Só o que eu queria era que o doutor me tranquilizasse. Mas a resposta não se fixava em minha mente. A cada chance uma nova perguntinha nada original para eles.
Fui para a sala de recuperação. Recupero-me instantaneamente e logo vêm todas as preocupações de antes da “viagem”. A principal delas era a escada da minha casa e alguém iria ter que exterminá-la.

As enfermeiras passavam de um lado para o outro e me desprezavam.

- Moça! Moça! – eu falava em tom quase desesperador.

E nada... 

São vários pacientes na sala... mas eu, impaciente.

Uns conseguem chamar mais atenção que eu, vomitando ou colocando o coração para bater devagar (como eles conseguem?)... todos correm para esses aí e nem ligam para os que apenas gritam: Moça!

Tento ser mais enfática, vou aumentando o tom, balanço os braços e nada. Tento diminuir os batimentos cardíacos, enfio o dedo na goela, sem sucesso. Respiro fundo e grito com vontade:

-Enfermeira!

Uma delas me olha de longe... resta uma esperança. Tenho uma questão crucial.  Vida ou morte!

- Moça, tenho uma perguntinha muito importante para o doutor... Posso subir escada quando chegar em casa?

Ela não dá muita importância e nunca voltou com a resposta.

Vou para o quarto ainda com essa dúvida cruel. Será segredo de Estado?

Toca o celular do meu marido, é o doutor e antes do “alô” vai logo dizendo: “Ela pode subir escadas!”. Meu marido ri e não entende nada. Eu fico aliviada, finalmente tinha a resposta tão aguardada.