domingo, 14 de julho de 2013

A atendente sem-noção

Definitivamente já superei a fase de me incomodar com olhares indiscretos. Precisa sem muito “sem-noção” para eu, ao menos, perceber a insistência visual. Daí para eu me per tubar com isso, vai uma distância enorme.

No entanto, para falar do assunto, CA, as coisas não estão tão bem resolvidas assim...

Estava na fila da C&A tentando pagar uma regatinha de academia.

Ah! Primeiro preciso contar que devido a 1ª cirurgia (mastectomia com esvaziamento axilar), tenho que fazer regularmente drenagem e, muitas vezes, pelo menos ultimamente, tenho que usar uma braçadeira (tipo meia kendal, só que não; uso-a no braço esquerdo) ou um enfaixamento, que fica tipo braço quebrado, para minimizar o linfedema (braço inchado).

Nesse dia, do episódio C&A, estava com o braço enfaixado.

O braço enfaixado chama tanta atenção quanto a touca na cabeça, só que o primeiro abre espaço para o povo começar um diálogo comigo, o que é 10 vezes pior para mim.

A lição “Não falar com estranhos” aprendi direitinho em casa, mas parece que esse pessoal por aí andou faltando essa aula.

Pessoas, que eu nunca vi mais gordas, perguntam o que aconteceu com o meu braço, que problema eu tive, se está doendo... Será que elas estão mesmo preocupadas comigo?

Como isso já aconteceu váááárias vezes, já tenho uma resposta evasiva e um tanto antipática: - Nada demais! Tá tudo bem!

Mas acho que devo aperfeiçoar mais esta resposta e caprichar nos tons cinzentos de antipatia facial, pois a grande maioria, assim como a caixa da C&A, não se conforma com o fim de papo e engata uma pergunta mais direta.

A curiosa atendente logo perguntou na bucha: - Foi queimadura?

Eu bem que poderia ter dito que sim e encerrar o assunto, mas respondi que não. Êta reflexo de sincera mais fora de hora...

O meu “Não” seco, acompanhado de uma expressão acabrunhada, não disposta a fazer novos amigos, não foi suficiente para me ver livre da fulana. Nem a fila me ajudava nessa hora, parece que a loja havia sido fechada para me atender.

Olho para meu relógio a fim de agilizar as coisas. Ela se apressa e logo dispara: - É câncer? Pergunta com uma cara de quem indaga sobre o clima. Onde foi parar aquele tempo em que as pessoas tinham medo de pronunciar a palavra fatídica “câncer”. Essa destemida, com certeza, não viveu nessa época.

Responder uma pergunta com outra pergunta é a máxima dica que consigo dar para estranhos de que não estou a fim de interrogatório: - Por quê? Respondo perguntando, enquanto a encaro e torço para ela se tocar.

Ela prossegue bem tranquilamente: - Minha tia teve... o seu foi de quê? Ela insiste!

Tento mudar o foco e permanecer centrada. Uma meditação express, um “contar até 10”, um “pirlimpimpim” para eu sumir de lá... o jeito é ficar por lá mesmo, afinal já deveria ter superado isso e não me incomodar tanto em falar do assunto.

Tento largar as 4 pedras que já estavam nas minhas mãos prontas para ela e, nessa hora, percebo que ela tem a naturalidade que eu gostaria de possuir nesse assunto. 

Noto que essa é a oportunidade de eu começar a praticar isso. Então, me desarmo geral.

E ela continua: - E o cabelo? Já está crescendo?

Com um semblante tranquilo respondo que ainda não e ela fala com simpatia: - Liga não boba, vai crescer e ainda mais bonito. Não viu o Gianecchine?

Eu digo que preferia ele antes dos cachinhos e ela solta uma gargalhada de quem concorda comigo.

E não é que essa sem-noção ainda era cheia de bom humor?


Tive que rir também. Aproveitei e imaginei como eu ficaria com cara de anjinha, cheia dos cachinhos dourados... hehehe


Nenhum comentário:

Postar um comentário