segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sem noção tamanho PP

A “sem-gracisse” da sala do Laboratório foi quebrada com a entrada de uma menininha de mãos dadas com sua mãe.

As duas pararam em frente à máquina de senhas.

Enquanto a mãe folheava uma meia dúzia de papéis a menininha se enroscava na perna da mãe, tipo um bicho preguiça, ao tempo que dava uma geral, com seus olhinhos infantis, no povo do recinto.

Passou rapidamente por todos. Não parecia ter nada de interessante por ali mesmo... Não fosse por uma mulher, um tanto estranha, que a encarava com um sorriso amigável no rosto: EU!

Eu amo crianças! Adoro ficar observando seu jeitinho, suas reações... A espécie que chama mais minha atenção é a que não emite sons muito aterrorizadores, as que não são chegadas a caretas, nem a línguas para fora; simpatizo, particularmente, com as que não jogam objetos em minha direção, não chutam a minha canela, nem puxam o meu cabelo (problema minimizado por hora). Me conquistam instantaneamente as que sorriem e permanecem assim, paradinhas, como em uma pintura de Renoir. Prefiro mesmo as que estejam acompanhadas de pais atentos. Essa fofinha não estava, suponho. Mas também não dá para ser tão rigorosa assim...

A lindinha ficou me olhando insistentemente, e eu, para ela. Parecia até aquela brincadeira de quem piscar primeiro, perde. A diferença é que eu sorria para ela e ela me encarava seriamente.

Quer ver que ela estava me olhando porque eu estava olhando para ela... Desviei o olhar por alguns segundos.... e nada! Ela havia “gostado” de mim.

Cheguei à conclusão que a culpa só poderia ser da toquinha preta que usava naquele dia. Em épocas de cabelo isso não aconteceria comigo...

Dei razão a ela. Muito sinistro uma mulher de toquinha preta no meio de uma sala de exames.

Tem criança que tem medo de palhaço... Acho que ela estava com certo receio de mim. Quanto mais ela me olhava, mais se enroscava na perna da mãe.

Poderíamos ficar nos encarando a manhã inteira se não fosse a entrada triunfal de uma mulher com uma perna dura, usando uma muleta.

Muleta + perna dura chamam bem mais atenção que uma simples e inofensiva toquinha,  descobri isso naquele dia.

Todos os olhares da sala se voltaram para a mulher da perna dura, inclusive o meu. Tinha que saber quem havia sequestrado o olhar da garotinha de mim.

A mulher da perna dura desfilava, toda lampeira de lá para cá e de cá para lá, sem nenhuma timidez. Já devia estar acostumada com a atenção que ela chamava.

A menininha me esqueceu de uma vez por todas.... aaahhhhh....

Eu fiquei com vontade de contratar a mulher da perna dura para passear comigo por aí.  Quem sabe eu não poderia passar incólume pelas pessoas “sem noção”. 

Afinal, nem todos os “sem noção” são de tamanho PP.


Será que funcionaria?

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