Estava
no consultório do meu obstetra combinando os detalhes do futuro parto do meu
filho (isso no século passado, 1999). Só o que eu pedia para o doutor era que
fosse com anestesia. Tudo bem que fosse parto normal, que pelo próprio nome
sugere que deveria ser mais tranquilo.
Aceitei
o tal de parto normal, contanto que ele viesse precedido da anestesia. De que
tipo? Não sei! De preferência do tipo que dorme e já acorda com o nenê nos
braços.
Detalhando mais o sonho, que ele já estivesse mamando na mais perfeita paz (o que me pouparia dias posteriores de sofrimento). Mas não foi assim que se deu. O bebê era apressadinho e foi logo saindo sem deixar tempo para eu experimentar, nesta minha primeira chance, o poder da anestesia.
Detalhando mais o sonho, que ele já estivesse mamando na mais perfeita paz (o que me pouparia dias posteriores de sofrimento). Mas não foi assim que se deu. O bebê era apressadinho e foi logo saindo sem deixar tempo para eu experimentar, nesta minha primeira chance, o poder da anestesia.
Anos
depois (em 2010), para resolver o probleminha do CA de mama (CA é o apelido do
câncer, mas só para os íntimos) é que tive a oportunidade de desfrutar da
“viagem” anestésica.
Até
agora já se foram algumas tantas que nem saberia relatar cada uma delas com
precisão. Melhor fazer um medley digno dos melhores DJs, apenas interrompido
por mixagens abruptas de histórias entrecortadas.
Uma
das constantes que já percebi nos meus procedimentos cirúrgicos é o ânimo das
equipes. Nada de expressões acabrunhadas ou quebrantadas. Eles comentam
assuntos diversos do dia a dia, de forma vigorosa, enquanto cutucam vários
pedaços do meu corpinho. Um desses mascarados, o meu preferido, é o que me
coloca para dormir.
Não
é assim tão rapidinho que isso acontece, eles são torturadores; além de fazerem
milhares de perguntas, ao passo que você congela na sala de cirurgia, ainda
querem ficar monitorando suas reações. Bloco de gelo reage? Acho que meu
organismo seria mais espontâneo dormindo.
Vou
dando uma forcinha. Podia ser que eles pensassem que eu gostaria de estar
consciente em todas as fases do processo. Mas prefiro não participar e de
quebra registro que confio inteiramente em vocês... Vão fundo!
-
Doutor, não está na hora da anestesia? Oh, pode caprichar viu? Sou durona na
queda!
Em
uma das cirurgias, no momento em que se aproximava do “ponto máximo”, me
colocaram uma máscara, tipo de inalação. Mandaram eu ir falando e respirando
normalmente. Como faz para ficar “normal” nessas horas? Eu fico bem falante,
fazendo gracinhas e respirando freneticamente por tudo que é buraco para ver se
entro logo no clima do “bonde zen”... hhuuummmm...
Finalmente
relaxo. Deve ser uma das poucas oportunidades que faço isso. Queria que
filmassem para deixar para posteridade.
Na
microcirurgia de colocação do cateter, o doutor principal disse que eu, sobre o
efeito da anestesia, não parava de perguntar se eu poderia subir escada quando
chegasse em casa. Foram dezenas de vezes. A equipe não se aguentava e ria a
cada indagação.
A preocupação vinha da recente cirurgia (histerectomia) em que a doutora me deixou a cisma de ter que acampar no andar de baixo da casa enquanto me recuperava. Claro que desobedeci! Subi em slow motion e no andar de cima fiquei ilhada a “la Rapunzel” (só que sem cabelo) por algum tempo. A sorte que meu príncipe pode usar as escadas.
A preocupação vinha da recente cirurgia (histerectomia) em que a doutora me deixou a cisma de ter que acampar no andar de baixo da casa enquanto me recuperava. Claro que desobedeci! Subi em slow motion e no andar de cima fiquei ilhada a “la Rapunzel” (só que sem cabelo) por algum tempo. A sorte que meu príncipe pode usar as escadas.
Só
o que eu queria era que o doutor me tranquilizasse. Mas a resposta não se
fixava em minha mente. A cada chance uma nova perguntinha nada original para
eles.
Fui
para a sala de recuperação. Recupero-me instantaneamente e logo vêm todas as
preocupações de antes da “viagem”. A principal delas era a escada da minha casa
e alguém iria ter que exterminá-la.
As
enfermeiras passavam de um lado para o outro e me desprezavam.
-
Moça! Moça! – eu falava em tom quase desesperador.
E
nada...
São vários pacientes na sala... mas eu, impaciente.
São vários pacientes na sala... mas eu, impaciente.
Uns
conseguem chamar mais atenção que eu, vomitando ou colocando o coração para
bater devagar (como eles conseguem?)... todos correm para esses aí e nem ligam
para os que apenas gritam: Moça!
Tento
ser mais enfática, vou aumentando o tom, balanço os braços e nada. Tento
diminuir os batimentos cardíacos, enfio o dedo na goela, sem sucesso. Respiro
fundo e grito com vontade:
-Enfermeira!
Uma
delas me olha de longe... resta uma esperança. Tenho uma questão crucial. Vida
ou morte!
-
Moça, tenho uma perguntinha muito importante para o doutor... Posso subir
escada quando chegar em casa?
Ela
não dá muita importância e nunca voltou com a resposta.
Vou
para o quarto ainda com essa dúvida cruel. Será segredo de Estado?
Toca
o celular do meu marido, é o doutor e antes do “alô” vai logo dizendo: “Ela
pode subir escadas!”. Meu marido ri e não entende nada. Eu fico aliviada,
finalmente tinha a resposta tão aguardada.
depois desse post vou reconsiderar o que eu pensava sobre a anestesia...acredita que tenho medo? sei lá porquê...é um medo infundado, na verdade rsrs
ResponderExcluirE euzinha então? Toda engajada na idéia de parto normal, mas, no fundo mesmo, era medo da anestesia... Na sala de parto, comecei a chorar e tremer, então o anestesista me perguntou se eu estava bem; disse que era medo da anestesia, então o abracei e comecei a chorar mais ainda, enquanto todo mundo (quanta gente numa sala de parto normal!) ria.
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ExcluirMas como ter medo de uma coisa que nem vamos "estar lá"...
ResponderExcluirquando vc tiver chance, "viaje" amiga... rsrsr
Kkkkkkkkkkkkk é assim mesmo tetela! Descreveu um centro cirurgico e um Cro de maneira bem fidedigna!!!
ResponderExcluirAcho q já sou expert... rsrsr
Excluirkkkkk,nunca li relato tão verdadeiro de um centro cirúrgico.kkkkk!
ResponderExcluirrsrsrs
Excluiré isso que dá eles não me colocarem logo p dormir... rsrsr